"MEU DEUS". Foi o primeiro pensamento que veio a sua cabeça ao acordar. Era por perto do meio dia de um sábado chuvoso. O pensamento se dava ao fato de imagens da noite passada recorrerem a sua mente como um quebra cabeça sendo montado com calma e dificuldade. Pessoas, luzes, sentimentos, sons e gostos vinham a cada piscar de olhos deixando-o aflito. Em que ele poderia acreditar? Tudo podia ser apenas uma peça como tantas outras que sua mente já havia lhe pregado. Uma brincadeira sádica criada por sua própria necessidade de sentir-se vivo.
Ele tratou de levantar calmamente, como se isso fosse impedir algum tipo de choque. Olhou a sua volta tentando encontrar algo que lhe fosse familiar e lhe desse alguma pista de onde ele se encontrava. Nada, simplesmente nada lhe era familiar. As roupas que vestia lhe serviam mal e possuíam um aspecto sujo. Não eram dele. Não poderiam ser dele aqueles trapos velhos. Sentiu mais uma vez o medo apertar-lhe as entranhas.
Caminhou lentamente até a porta. Ficou parado ali por alguns segundos digerindo a idéia de não saber onde estava e o que poderia haver por detrás daquela porta. Vencendo o medo moveu o trinco abrindo-a ligeiramente. De repente seus olhos não enxergaram mais. Uma claridade anormal tornou a adaptação de seus olhos mais difíceis que o costumeiro. Por quanto tempo havia permanecido apagado? Onde ele estava? Como foi parar ali? As perguntas vinham com tamanha velocidade trazendo a desconfortável sensação de náusea. Respirou profundamente e deu o primeiro passo em direção a luz.