terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Coletor de Almas (Cap II)

Mais um dia igual aos outros. Levantou calmamente e foi vagarosamente até o espelho. Arrumou os cabelos desgrenhados que, como num passe de mágica, tomaram sua forma habitual ficando perfeitamente alinhados. Seus olhos de cor azul brilhavam de uma forma cintilante e meio fantasmagórica. Um sorriso desenhou-se em seu rosto ao notar que na cama da qual havia levantado, uma mulher dormia profundamente sobre os lençóis. Ele se sentia bem!

Já haviam passado sete anos desde aquela noite. Noite que seguidamente se reavivava em sua memória. Aquele ponto foi onde tudo mudou. O marco responsável por quem (ou o que) ele havia se tornado. Ele não tinha do que reclamar, afinal sua vida estava em crescente ascensão. Seu mundo crescia cada dia mais. Mas algo dentro dele reclamava. Seu juiz interno estava para tomar o controle novamente.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Coletor de almas (Cap I)

"MEU DEUS". Foi o primeiro pensamento que veio a sua cabeça ao acordar. Era por perto do meio dia de um sábado chuvoso. O pensamento se dava ao fato de imagens da noite passada recorrerem a sua mente como um quebra cabeça sendo montado com calma e dificuldade. Pessoas, luzes, sentimentos, sons e gostos vinham a cada piscar de olhos deixando-o aflito. Em que ele poderia acreditar? Tudo podia ser apenas uma peça como tantas outras que sua mente já havia lhe pregado. Uma brincadeira sádica criada por sua própria necessidade de sentir-se vivo.

Ele tratou de levantar calmamente, como se isso fosse impedir algum tipo de choque. Olhou a sua volta tentando encontrar algo que lhe fosse familiar e lhe desse alguma pista de onde ele se encontrava. Nada, simplesmente nada lhe era familiar. As roupas que vestia lhe serviam mal e possuíam um aspecto sujo. Não eram dele. Não poderiam ser dele aqueles trapos velhos. Sentiu mais uma vez o medo apertar-lhe as entranhas.

Caminhou lentamente até a porta. Ficou parado ali por alguns segundos digerindo a idéia de não saber onde estava e o que poderia haver por detrás daquela porta. Vencendo o medo moveu o trinco abrindo-a ligeiramente. De repente seus olhos não enxergaram mais. Uma claridade anormal tornou a adaptação de seus olhos mais difíceis que o costumeiro. Por quanto tempo havia permanecido apagado? Onde ele estava? Como foi parar ali? As perguntas vinham com tamanha velocidade trazendo a desconfortável sensação de náusea. Respirou profundamente e deu o primeiro passo em direção a luz.