quarta-feira, 3 de junho de 2009

A vida em 2 segundos (Parte I)


Ele era um bom amigo, tinha muitos problemas é verdade, mas isso nunca interferiu no seu jeito carismático de ser. Fazia algum tempo que ele estava passando por um momento difícil em sua vida. Uma época onde as pessoas que ele mais dava valor estavam deixando de fazer parte da sua vida. Cada despedida levava consigo um pedaço da alegria que costumava ser seu cartão de visita.

Nada causou mais danos em sua vida que a perda de seu grande amor. Amor esse que acabou de forma abrupta e dolorosa. Tão logo foi o fim desse amor, que ele já não era mais visto com aquele belo sorriso estampado na face. “Está tudo bem”, ele respondia ao ser questionado sobre seu estado emocional, mas todos sabiam do enorme conflito que existia em seu interior.

Medo, angústia e tristeza. Sua vida mudou completamente. As festas se tornaram seu meio de fuga para esses sentimentos que o consumiam aos poucos. Bebia demais, brigava demais, agia de forma incompreensível e não tardou para que seus amigos se afastassem. Ele estava sozinho. Ele havia perdido tudo. Ele não sorria mais.

Eu me lembro muito bem. Foi numa noite fria, no fim de maio que o pior aconteceu. Ele estava voltando de uma festa completamente atordoado como de costume, não só pela bebida, mas pelo conflito de sentimentos que inundavam sua alma e o deixavam completamente perdido. Estava dirigindo seu carro em alta velocidade pela avenida principal, seus olhos fixos na estrada coberta pelo gelo. Algo saiu errado, um estouro, uma sucessão de barulhos inundou seus ouvidos e uma dor dilacerante tomou sua face. O sangue quente escorria pelo seu rosto, foi tudo tão rápido que ele não sabia o que havia acontecido. A quantidade de sangue era tão grande que ele já não conseguia mais respirar. Seu coração disparou como em uma última tentativa de mantê-lo consciente. O medo tomou sua alma e a visão de todos aqueles que ele mais amava tomou seus pensamentos. A visão de uma pessoa agachada sobre o capô destruído do carro, com os olhos fixos nele era apavorante. Ele sentiu o medo inundar seu corpo. Ele já sabia o que estava acontecendo, e era incapaz de impedir. Então fechou os olhos, deixando uma lágrima cair.

A morte estava ali para buscá-lo.


continua...

3 comentários:

Vinícius Schneider disse...

Deve ser por esse tipo de coisa que os poetas dizem, que "cada momento é único" e "o tempo nunca volta atráz"...

Ricardo Bertolucci Reginato disse...

Me arrepiei em diversos momentos do texto.
As as coisas tem sempre um motivo para acontecerem, eu espero, meu ilustre amigo, que tu tenhas entendido o teu motivo.
O texto, embora não nos traga boas lembranças, está muito bom.

Unknown disse...

hmm, achei super interessante, nunca tinha parado para ler teu blog, me arrependo, porque tu escreve muuito bem.. me arrepiei, que texto!